segunda-feira, 10 de junho de 2013

E naquele momento eu seria capaz de jurar que éramos infinitos.

E mesmo que por alguns segundos, eu senti uma vontade quase incontrolável de falar com alguém que eu não conhecesse para começar alguma coisa nova. E mesmo que por alguns segundos, eu não liguei que nada de muito especial tivesse acontecido nas ultimas semanas, nos últimos meses ou anos. Eu olhei para o bate-papo do Facebook e esperei que alguma aventura estivesse ali escondida sem eu saber, que finalmente tivesse algo incrível para acontecer comigo. E mesmo que ninguém muito especial estivesse online, eu continuei a sentir esse sentimento por algum tempo. E esse tempo não pode ser contado em minutos ou horas, porque eu estava apenas vivendo, mesmo que eu estivesse em uma cadeira na frente do computador. De repente, tudo que já havia acontecido na minha vida parecia irrelevante diante de tudo que poderia acontecer daqui para frente. E por aquele tempo tão louco, eu não soube de nada que poderia vir daqui em diante e eu me senti bem por isso. Eu me senti meio fora de controle, meio livre para fazer o que quiser. Porque eu senti tantas pessoas a minha volta que eu poderia falar e começar algo que eu não me senti sozinha. E então essa sensação invadiu minha alma por inteiro e fez com que eu me sentisse bem. E depois de um tempo eu percebi. Que por minutos, mesmo que por alguns, eu havia sido infinita.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O nome dela era Maria.

Dona Maria. Eu sei que parece mentira, porque Maria é um nome bem comum, então parece que eu estou inventando. É um nome que passa abatido, assim como ela talvez também passasse. Ela era a faxineira da minha escola, veio de uma cidade do interior de São Paulo pouco conhecida, tinha uma vida pouco conhecida. E agora estava na frente de 34 alunos contando sobre ela, o que provavelmente ela nunca tinha feito antes.
Eu já tinha a visto no banheiro várias vezes, mas nunca soube seu nome. Depois que ela foi embora, meu professor de geografia nos disse que ela era invisível  Ele disse que, para muitos, ela não tem nome, idade, história. Ele disse que antes de tudo que ela tinha disto, ele não sabia nada sobre ela, a não ser que ela era uma pessoa muito otimista, pois todas as vezes que ela passava por ele, ela abria um sorriso. Deu para perceber como ela estava feliz ao falar que todos seus filhos estudavam. Parece uma coisa tao boba para nós, quase uma obrigação. Mas seus olhos brilharam como diamantes naquele momento. Ela tinha 63 anos. Ela ficava feliz quando a sala de aula ficava limpa. ela esfregava as contas de matematica que a gente escrevia na mesa até elas saírem  Ela ficava ate as 9 da noite limpando aquele lugar.
Acho que, depois daquele dia, eu nunca mais escrevi nada na carteira.

sábado, 20 de abril de 2013

"Eles se amaram de qualquer maneira"

(Paula e Bebeto - Milton Nascimento)

De madrugada, quando nem a Lua estava com sono, você me olhava de um jeito e me dizia "Fica! Fuca comigo essa noite...". Continuava dizendo que de manhã eu seria livre, mas quando os primeiros raios de sol batiam no lençol que cobria aquele colchão velho, seus olhos estavam me olhando novamente e você me implorava novamente "Fica! Fica comigo para sempre!", e eu não podia dizer 'sim', caramba! Eu estaria mentindo, porque eu nunca ficaria com você a vida inteira! E você sabe o quanto eu odeio mentir, principalmente para você. Mas desde o começo isso tudo foi uma mentira e é por isso que eu odiava isso, odiava esse 'nos dois' de que você tanto falava. Seu amor era tão profundo que me afogava, suas palavras tão intimas que me constrangiam. E você nem ligava. Só queria mais uma noite, mais um abraço, mais um beijo, mais um amor que eu nunca estive disposta a te dar. Eu queria você, nunca quis. Mas do seu lado eu sentia que podia ser amada, respeitada, e isso sempre foi a unica verdade nisso tido, mas mesmo assim continuava a ser uma mentira. Não consegue ver? Isso é uma bagunça impossível de ser arrumada, inclusive por nós, que não conseguimos deixar nem nossas camas arrumadas. Não vou dizer que acabou, nada que nunca começou pode acabar. Apenas pus um ponto final nesse amaranhado de palavras, ok? E espero que seja o ultimo.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Uma fogueira tão minha. Uma fogueira tão nossa.

Quando eu me sentei naquele chão frio e molhado, um trilhão de pensamentos e lembranças invadiram a minha mente sem eu nem sequer pedir. Não que eu tivesse feito vezes suficiente aquilo (montar barracas, chorar na fogueira, ir para o chalé, vestir o pijama, ir de mala e cuia para o cross, o nosso adorado cross, que era mais adorado ainda por nós podermos chamá-lo de "nosso" e sentar na frente do fogo) para ter muitas lembranças para invadir minha mente tão sonhadora. Mas sentando naquele chão frio e molhado, me permitindo molhar a bunda, percebi que era a hora. Não uma hora qualquer, A Hora, aquela última hora que tantas pessoas falam que é para a gente aproveitar antes que ela chegue, que vai ser triste mas que vale a pena e blá-blá-blá. Eu tinha medo daquela hora, confesso. Há quatro anos atrás, eu olhei para uma fogueira um pouco maior do que aquela que nos aquecia naquele momento e chorei com medo daquela hora chegar mais rápido do que eu estava preparada. E agora, cara a cara com ela, eu sorri. Sorri de felicidade com uma pitada de melancolia, mas maior do que isso, sorri de satisfação. Porque sentada na frente daquela fogueira tão nossa, compartilhando o seu calor com aquelas trinta e quatro pessoas tão queridas, eu olhava para o passado e percebia que ele tinha sido aquilo. Lembrei das danças loucas que fizemos quando ninguém e todo mundo estavam  vendo, dos micos tão bem pagos, das balinhas em que choramos até desidratarmos, das competições em que torcemos até nossas vozes falharem. Lembrei de tudo e de nada, porque não tenho muito foco para ficar lembrando. E além disso, fagulhas brilhantes estavam queimando um tempo meu que era precioso, e as vezes, é mais preciso viver do que lembrar. Porque uma vez eu vi um filme que falava que o que a gente vive vão virar histórias um dia. E hoje, na frente desse computador, percebo que aquela maisena que foi muito bem dada, aquele grito que foi tão alto, aquela lágrima que foi tão sentida, viraram já histórias, e que aquele momento tão temido e esperado virou uma história tão bonita porque, na frente do fogo, eu vivi. E agora, o que nos resta é contá-las,
recordá-las. Revivê-las.

sábado, 16 de março de 2013

"Eu não vejo o que qualquer um que pode ver em outro qualquer, a não ser em você."


(Anyone Elsa But You - The Moldy Peaches)

Nunca entendi muito bem como tudo aquilo funcionava. Com aquilo eu quero dizer ela, minha namorada. Era tão complicada que as vezes nem ela se entendia, o que me dava algum credito em nossos infinitos mal entendidos. Mas sua complicação me encantava, assim como seus olhos profundamente azuis. Seu passado me assombrava assim como a grande lista de namoros que não deram certo que ela levava na testa. Sua família me assustava nas festas, com seus gritos e animações escandalosas, assim como os gritos histéricos que ela dava quando estava brava comigo. Mas a gente se entendia.
Sua personalidade tinha tantos altos e baixos que eu não sei como ela ainda se aguentava em pé. Era daquelas que pedia um abraço e depois te empurrava pra longe, tão confusa que até me confundia. Suas caras e bocas fazia um teatro que só os mais íntimos podiam ver, mas as vezes os mesmos não queriam e por isso, várias vezes, as pessoas iam embora. Mas eu fiquei. Fiquei para vê-la pela manhã, pela tarde e pela noite. Fiquei para consolá-la nos momentos difíceis e todas aquelas coisas que a gente ouve as mulheres falando por ai. 
A manina era tão contraditória que me puxava a força para ver um filme bobo, e depois reclamava de eu não ter gostado, me chamava de nerd chato. Xingava os personagens, jogava as almofadas na tela da TV, chorava do começo ao fim, mas de algum jeito acabava me dizendo:
- Sabe porque eu gosto de comedias românticas? - Perguntava com um sorriso bobo na cara.
- Não. - Eu respondia.
- Porque elas tem sempre finais felizes.

sexta-feira, 15 de março de 2013

"Dê-me amor como nunca antes, porque, ultimamente, eu tenho desejado mais"


(Give Me Love - Ed Sheeran)

Pode brigar comigo, mas não vai muito longe não, fica perto, tá? Faz cafuné no meu cabelo e me diz que vai ficar tudo bem. Eu sei que sou mais enjoativa que mel, mas é meu jeitinho, pô, me aceita. Me leva pro parque e me ensina a andar de skate. Me empresta o seu boné para eu fingir que eu sou das ruas. Me diz aquelas coisas chiches que eu choro quando vejo nos filmes. Me acorda de manhã cedinho e diz que me ama. Não, não faz isso não, porque eu gosto de dormir. Mas me compra aquele filme e finge que não sabia que eu gostava. Me dá rosas vermelhas, porque elas significam amor. Me pega pela mão no meio da sala de estar me ensina a dançar, mesmo você não sabendo. Tenta fazer alguma coisa na cozinha para mim, nem que seja um ovo frito e tudo bem se ele sair meio queimado. E quando uma mariposa entrar no quarto em um dia de verão, estufa o peito, dá uma de machão e a mata. Finge que não sabia que era meu aniversário e me faz uma festa surpresa. Não, não esquece meu aniversário não. Mas a festa surpresa eu topo. Eu te deixo ficar bravo comigo, perder a paciência, isso é normal. Mas não vai embora não. Fica comigo.

"Estava à toa na vida, o meu amor me chamou pra ver a banda passar, cantando coisas de amor"


(A Banda - Chico Buarque)

A menina estava sentada na janela, vendo o movimento da rua na sexta a tarde, não que essa estivesse movimentada. Mas a cabeça da menina estava bem movimentada vendo o vendedor de flor, chamado Marcos, dormir na sombra, vendo Clara, a cabeleireira, fumar na esquina. Estava sentada no parapeito da janela, com seus pés descalços balançando pelos ares, fazendo o que sua vó havia ensinado desde de criança: 'Se a vida lhe der limões, faça uma limonada.' dizia todo domingo de manhã. Não que a vida tivesse lhe dado limões, nem laranjas, na verdade a feira só passava segunda de manhã bem cedinho, quando os preguiçosos ainda descansam. Mas a vida havia lhe dado aquela janela com uma vista tão linda! Então ela estava lá, observando. Admirando, para ser mais poética. Haviam lhe dito que a vida entre quatro paredes era muito parada, muito fria, então ela foi olhara rua. Foi ver a vida passar sem pressa, sem anseios. Ficou lá do amanhecer até a noite, só olhando. E depois foi dormir, pensando que aquela foia melhor limonada que havia tomado.